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Como se as palavras custassem dinheiro


O dia do aniversário de Arthur estava chegando, então ele decidiu ir à loja de Ícaro, um lugar conhecido como Doador de Palavras. Quando chegou ao local, o garoto abriu a porta e perguntou:

- Quero três “obrigados”.

Para seu espanto Ícaro respondeu:

- Olá Arthur, as palavras não são mais doadas. Hoje você precisará pagar por elas.

O menino franzino saiu enfurecido, sem querer muitas explicações, bateu a porta e foi para casa.

No mês seguinte, Arthur conseguiu uma entrevista de emprego e, mesmo chateado com o ocorrido no Doador de Palavras, ele voltou ao local.

- Tô precisando de um "bom dia” e já tô sabendo que tá custando dinheiro esse lance de palavras. Quanto vai ficar?

Ícaro, que ainda não tinha saído de seu assento, respondeu educadamente:

- Olá Arthur, você deu sorte, o “bom dia”, hoje, está na promoção, vai custar R$50,00.

O garoto se espanta com o preço e sai do local revoltado, arrastando seu chinelo velho com uma nota de R$2,00 na mão. Ele vai direto à entrevista.

Arthur não conseguira o emprego e precisava pedir dinheiro emprestado com sua mãe. Foi aí que ele se lembrou do Doador de Palavras. Então, ele decide ir até lá para conferir se as palavras tinham voltado a não ter valor.

- Ei... Uhm... Ah não sei seu nome. Tanto faz, cês tem “por favor”?

- Que bom vê-lo aqui de novo Arthur, o “por favor” nós temos em grandes quantidades, sabe como é, a procura está baixa. Vai custar R$60,00.

Arthur, indignado com a novidade da loja, sai novamente sem nada. Ele senta no banco em frente à loja, lembra que tem mais dez reais guardados no bolso esquerdo da calça, mas prefere não gastar, já que ele precisaria do dinheiro para comprar um jogo novo para o seu videogame.

A loja de paredes amareladas tinha pouco movimento, mas nunca deixava de funcionar. A rua era monótona e, durante a noite, somente a lua iluminava a faixada das casas.

O garoto de olhos amendoados estava com a cabeça baixa quando percebeu, pelo movimento da sombra entre os pilares, a entrada de Beto na loja.

- Bom dia, você se lembra de mim? Vim aqui mês passado e comprei um “estou com saudades”, foi de grande importância! Hoje irei encontrar uma pessoa especial, ela chegará de viagem e gostaria de demonstrar o que sinto. Por favor, quanto custa esta caixa com alguns “eu te amo”?

-Olá Beto, é claro que me lembro de você meu jovem. Fico feliz por saber que você irá encontrar a pessoa digna de seus sentimentos mais sinceros. Esta caixa está no valor de R$100,00.

- Aqui está o dinheiro. Obrigado e boa semana para você.

Houve uma época onde as palavras não custavam nada, onde as pessoas eram mais educadas e procuravam fazer o bem e ser gentis sem procurarem nada em troca. À medida que os anos se passaram, estas atitudes e cada palavra gentil e de amor vieram a desuso, tornando-se cada vez mais raras. Talvez a pressa do dia a dia, o estresse ou a rotina agitada tiveram influência neste fato, porém nunca foram desculpas para tal acontecimento. As palavras passaram a ter valor, e o preço que nelas foram colocados nada mais é do que uma seleção. Quem está disposto, mesmo com as dificuldades do mundo moderno, a continuar usando estas palavras? Quando as pessoas vão perceber que a educação, o carinho e o amor vem de dentro para fora, que deve ser espontâneo? Será que o caminho é realmente esse, de precisar que as palavras tenham um “valor financeiro” para que as pessoas repensem no rumo que as coisas estão tomando?

Não foi o preço que impediu Beto de comprar as palavras e, enquanto o mundo continuar assim, não deixe com que o preço, nem ninguém, te impeçam de ser o que você sempre foi antes de tudo isso.

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